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Meus dois leitores

Hoje escrevo para vocês, meus dois leitores que desconheço, mas que sei que acompanham esse blog com lealdade exemplar. Tenho textos com muitos leitores, mas sei que vocês dois são os que mais prontamente os lêem, antes mesmo da minha esposa, a quem quase nunca aviso quando publico. Saibam que não consigo identificá-los, por isso, como nunca se manifestam, imagino que prefiram o anonimato. Também acho melhor assim, porque não sabendo quem são, não ficarei intimidado por imaginar o que poderão pensar das muitas bobagens que escrevo aqui. Além disso, esse mistério me permite devanear imaginando que vocês possam ser um de meus ídolos ou celebridades que admiro. Mas, mesmo que vocês não o sejam, já tem toda a minha gratidão por acompanharem este blog onde coloco em palavras muitas ideias, boas ou não, que me dão vontade de desenvolver nesses escritos. Afinal de contas, ninguém escreve só para si próprio, mas para tentar tocar outras pessoas de alguma forma. Por isso, sempre que coloco algo...

O vampiro

Não acredito em vampiros. Mas, sim, há forças transformadoras que afetam o comportamento humano. As que são positivas, como o amor e a fé, e as que são negativas, como o ódio e o desencanto. O dinheiro pode ser uma dessas forças que transformam e, no extremo, levam à supressão da humanidade e do sentimentalismo em uma pessoa. Isso porque ter dinheiro e ganhá-lo, a partir de um ponto, pode se tornar a única coisa que interessa a quem o acumula. A partir do ponto em que ele atende nossas necessidades básicas e permite realizar nossos sonhos de consumo, o dinheiro pode passar a ser um valor por si mesmo e a regra de conduta que vai medir as atitudes em razão do resultado financeiro que elas possam gerar. Quando isso acontece, o dinheiro, gradualmente, começa a excluir os sentimentos e os demais valores que antes conduziam a vida daquela pessoa que, então, fica "vampirizada" por essa sede que é insaciável e só pode ser alimentada pelo dinheiro que segue acumulando e do qual já nã...

A economia do corpo

Se a economia, num conceito bastante reducionista, é a ciência que analisa o modo como as sociedades utilizam recursos escassos para satisfazer necessidades ilimitadas, seria possível fazer uma analogia com o uso do nosso principal recurso biológico: o corpo humano? O que proponho é pensar sobre qual é a economia ideal do corpo, levando em consideração a sua finitude e o declínio temporal que o leva, gradualmente, ao esgotamento de suas utilidades para nós, seres humanos. Muita gente acredita que esse ideal é que o corpo chegue até o final de nossas vidas em condições de nos oferecer, ainda, as funcionalidades que dele se espera, com a qualidade que nos permita seguir tendo autonomia para realizar as tarefas essenciais do dia-a-dia, desde situar-se no tempo e no espaço, como realizar a própria higiene, comunicar-se,  arrumar a casa e por aí vai. Mas se a economia também é mensurada pelo equilíbrio entre a oferta e procura, a pergunta é se vale a pena nos dedicarmos a preservar esse...

Afetos blindados

Na semana que passou, comemorou-se o Dia dos Namorados e, no mesmo dia, li essa notícia no Jornal do Comércio que me surpreendeu: "cresce o total de lares com apenas um morador, que já passam de 11 milhões no País. O Rio Grande do Sul tem um dos maiores percentuais de domicílios unipessoais, com 22,3% da população vivendo sozinha". Segundo a matéria, os "dados revelam uma mudança significativa no modo de viver, e de se relacionar", crescendo a "sensação de que, apesar de hiperconectadas, as pessoas estão emocionalmente mais distantes", e que a "facilidade para conhecer alguém por meio de aplicativos contrasta com a dificuldade de construir vínculos afetivos mais profundos, estáveis e duradouros". Essa super "oferta" gerada pelos aplicativos de relacionamento e meios virtuais faz parecer que existe uma abundância de pessoas dispostas a se relacionar, mas, paradoxalmente - como aponta a matéria -, quanto mais opções, mais difíci...

Porque não sou um maratonista

Admiro quem se propõe a ser um maratonista ou a encarar desafios físicos extremos, como escalar o Everest ou fazer triatlo. Mas isso, hoje, não é pra mim. E olha que sempre fui de praticar esportes e cuidar da saúde. Ocorre que sou bem ciente do nível de exigência física, disciplina e dedicação envolvidos em práticas esportivas de alto rendimento, sabendo o tamanho do preço a pagar para poder encarar um desafio desses. E por que eu me proporia a isso? Afinal de contas, não sou um aficionado por esse tipo de prática esportiva e, principalmente, me falta uma razão para me propor a tamanho desafio. Penso que qualquer um que se proponha a correr e concluir uma maratona, arriscando a própria saúde, tem que ter uma motivação maior do que todas as objeções que aparecerão pelo caminho, a começar por sair do ócio - estado que muito me agrada. Essa motivação, a meu ver, tem que representar algo muito significativo para o candidato à maratona, como a superação de uma grave doença ou de um vício, ...

O morcego na sala de estar

Por vezes, desfrutamos de momentos em nossas vidas em que tudo parece perfeito. A vida pessoal, o trabalho, as realizações e conquistas, a saúde - é claro! -, o amor...enfim, tudo o que mais nos interessa reverbera plenitude e uma paz satisfatória, que podemos até chamar de felicidade, a nos envolver como se, de fato, estivéssemos nas nuvens. Então você está gozando essa situação sublime, sentado na poltrona de sua sala de estar, quando um morcego adentra pela janela e, com toda a sua feiúra e repugnância, acaba com o seu desfrute e o joga no pânico de, prontamente, ter que lidar com algo tão desagradável. Poderia ser um rato também, ou uma barata, ou ainda, para não nos restringirmos aos animais de pouco apreço popular, uma má notícia, um acidente de carro, a batida da canela na quina da mesa, ou até a morte de um ente querido. Mas, você deve estar se perguntando, para que pensar em estragar um momento tão bom com coisas negativas? Porque, é importante lembrar, não existem períodos em...

O espaço e o vazio humanos

Tenho notado uma tendência de muitos a ocuparem maiores espaços. Casas e carros cada vez maiores. Até mesmo na beira da praia, o guarda-sol já não basta, tem que ser um gazebo de 12 metros quadrados, pelo menos. O próprio som do mar já é insuficiente, tem que ocupar o espaço sonoro com alguma música (ruim) em alto volume. Às vezes penso que todo esse espaço é para conseguir maior distância dos outros, ou será porque o ego humano está inflado como nunca antes se viu? Em relação a alguns, porém, poderia apostar que o espaço que ocupam é proporcional ao seu vazio interior. Será que necessitam mesmo projetar no espaço físico o que não encontram em si mesmos? Ou é porque preferem mesmo evitar estar com seus pensamentos e fazem questão de ficar do “lado de fora”, com cada vez mais distrações e amplitudes? Parece que nós, seres humanos, estamos ocupando cada vez mais espaços - com todo o custo que isso gera para nós mesmos e para o planeta – e que, mesmo assim, permanecemos insatisfeitos e in...