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A perda de um amigo

A perda de um amigo, inevitavelmente, impõe a perda de um pouco de nós mesmos, porque se perde um parceiro de momentos vividos e de histórias ocorridas com aquele comparsa querido, com quem dividíamos a preciosa memória dessas aventuras que alimentam a nossa nostalgia. Muitas dessas memórias de que nos orgulhamos, que apresentamos como troféus em outras rodas de amigos, que representam os tais bons momentos vividos, muitas delas são enterradas junto com o amigo que se vai - a parte que só ele lembraria para contar. E aquela vaga esperança de reviver aqueles dias, como se fosse possível voltar a ser quem éramos naqueles tempos que se foram, essa se esvai de vez pelo óbice intransponível da morte. É a finitude que se apresenta quando os nossos começam a nos deixar, e você começa a calcular o tempo que ainda teria, cuidando-se ou não, nessa matemática imponderável da vida. A perda de um amigo deixa um vazio onde havia o amor na sua expressão mais genuína, o amor da amizade, do querer esta

O fracasso

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Um barco pesqueiro que não venceu a travessia do canal, foi superado pelas ondas altas e adorna, jogando ao mar seus tripulantes e permanecendo ali exposto aos olhos do público que assiste a tudo da beira da praia, vendo agora o resgate daquelas pessoas que deveriam saber o que estavam fazendo e também a embarcação jazendo tombada sobre um banco de areia. Assistindo, enfim, a um grande fracasso... O fracasso de cada um é assim, em maiores ou menores proporções, nos fazendo sentir que o barco virou à vista de todos e de seus julgamentos sobre o nosso erro, suas causas e consequências. Olhando para você como o timoneiro que errou o curso da proa, vacilou em cumprir com aquilo que todos o julgavam capaz e pôs tudo a perder. E agora? Agora, as ondas batem no casco de um navio derrotado, como que zombando do seu fracasso. A sensação é de que você chegou ao fim, que tudo acabou, a derrota é definitiva e permanente. Mas...sempre subestimamos os esforços que vêm em nossa ajuda, por nós mesmos

Aniversário

Hoje comemoro mais um aniversário, sentindo o tempo passar e a vida fluir. Agradeço a Deus por estar vivo, com saúde, recebendo o amor de pessoas queridas e me sentindo em paz. Agradeço por ainda ter gana de querer realizar coisas e desfrutar da vida, hoje em dia olhando mais para a simplicidade gratificante de pequenos momentos prazerosos e sensações positivas, especialmente quando compartilhados em boas companhias. O curso natural da vida, a meu ver, é encher-se dela ao longo do caminho até dar-se por saciado e aí pensar em descansar. Ainda tenho sede...ainda há por que viver.

Nothing compares to Sinead O'Connor

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Em 1990, o mundo foi impactado pela beleza e voz de Sinead O'Connor cantando Nothing compares 2 U . O clipe com ela cantando essa bela canção triste, de cabelo raspado e os expressivos olhos azuis era perturbador pela emoção que ela conseguia transmitir. Difícil não se apaixonar por aquela jovem e aquela voz, como o mundo todo se apaixonou e lhe rendeu todos os prêmios naquele ano. O mesmo mundo, tempos depois, virou as costas a ela, em represália por suas falas e atitudes, especialmente quando afrontou o Papa João Paulo II - em protesto contra os abusos sexuais cometidos por membros da Igreja Católica -, convertendo-se depois ao Islamismo, o que também não é simpático para o mundo ocidental. E então ela sumiu dos holofotes e foi viver suas batalhas pessoais, ela que durante a infância foi abusada por uma mãe perversa e que, no ano passado, perdeu um filho que tirou a própria vida. Talvez tenha chegado ao limite do que podia suportar, e nessas horas não importa muito quantos milhõe

Nós e os nossos objetos

Na vida nos afeiçoamos a pessoas, a lugares e também a objetos. Essas coisas que em algum momento foram a razão de um desejo de ter e que, após conseguidas, ficam próximas da gente, em nossas casas ou no trabalho, ao nosso alcance, sempre disponíveis para tirarmos proveito de sua utilidade. Passam a fazer parte da dimensão material de nossas vidas. Às vezes são passageiras, quase descartáveis e que pouco são lembradas. Outras vezes, chegam a ser uma referência da nossa personalidade, motivo de carinho e apego, como companheiros que carregamos na jornada da vida. Creio que todos temos coisas assim a que nos apegamos. Eu tenho o meu baixo Fender Jazz Bass que comprei em 99 e para mim é como o cavalo do Zorro, minha espada em tantas aventuras nos palcos da minha modesta carreira de músico amador e noutros tantos momentos de prática solitária. Também tenho apreço por alguns discos e livros, cujo valor estimativo ultrapassa muito o preço desses itens. Mas confesso que não lembro agora de ou

Conto: Outra vez

Chegou antes do combinado e escolheu a mesa mais reservada, no canto ao fundo do café. Estava ansioso, há muito não se viam e a tensão de reencontrá-la estava deixando claro que ainda sentia algo por ela, além da saudade. O quê, exatamente, não sabia ao certo. Já havia lamentado muito o longo tempo em que permaneceu preso a uma certa obsessão por essa mulher, descuidando de si mesmo, e achava ter superado essa fase de sua vida, mas já não estava certo disso. Seria desejo apenas, paixão ou algum outro tipo de conexão que o envolvia a ela? Olhou melhor o ambiente e trocou de mesa - estava mesmo ansioso por esse reencontro. Ficou imaginando o que lhe diria depois de tanto tempo, o que lhe perguntar, os gostos dela que ainda lembrava, buscando conduzir uma conversa agradável. Outra vez, como tantas vezes antes, estava numa mesa de café, esperando por ela, outra vez…Como estaria hoje? Feliz? Isso tornaria mais difícil qualquer investida, pensou, mas logo se arrependeu, não queria vê-la mal

Uma lição de fé

Em meio a tudo o que aconteceu em nossa cidade e nas cidades vizinhas em decorrência do ciclone e das fortes chuvas que atingiram a região na semana passada, com perda de vidas e imensos prejuízos para muita gente, especialmente aqui ao lado em Caraá, veio dali mesmo uma história inspiradora de sobrevivência. Uma senhora de 58 anos foi arrastada de sua residência pela correnteza do Rio dos Sinos por cerca de 20 km, quando conseguiu agarrar-se ao tronco de uma árvore, permanecendo assim por 36 horas até ser resgatada por vizinhos. Questionada sobre como resistiu a todo esse tempo no esforço de sobreviver, na chuva e no frio, ela serenamente respondeu que tinha fé em Deus e que queria muito ver novamente seus filhos. Diante de uma situação assim, extrema e quase inimaginável, sua sobrevivência pode ter sido mesmo um milagre, como ela acredita que foi, mas também nos ensina sobre a importância de ter fé, seja em Deus ou seja num propósito pelo qual vale a pena manter-se firme diante de qu